Jean Ray

Foi algures nos anos 80, numa altura em que o Gato de Biblioteca procurava algo de interessante no então fraco panorama editorial português, que, ao passar por uma tabacaria no Chiado, viu na montra uma série de pequenos livros com cores garridas, cujas ilustrações da capa remetiam para a Belle Époque e com títulos apelativos como A Ressurreição da Górgona ou As Fábricas da Morte Súbita. Por cima, em grandes letras, o nome Harry Dickson e, num tipo mais pequeno, o autor: Jean Ray.

Após alguma hesitação, a curiosidade venceu, o Gato entrou na loja e adquiriu o primeiro volume, O Canto do Vampiro, e assim começõu a sua iniciação na vasta obra de Jean Ray, pseudónimo de Raymond Jean Marie De Kremer (1887-1964), autor de origem belga que também assinou John Flanders entre muitos outros.


Jean Ray é considerado o pai da literatura fantástica belga e um dos grandes autores do género, embora nunca tenha tido a projecção de Lovecraft ou de Poe. A principal característica da sua escrita é a linguagem barroca, de uma enorme riqueza, plena de estrangeirismos, que ajudam a localizar a acção nas suas histórias (que se passam sempre fora do seu país natal).

A sua carreira literária inicia-se cerca de 1908, com textos em revistas estudantis. Em 1920 entra para o Journal de Gand, sua cidade natal, onde publica diversos contos, mais tarde reunidos na colectânea Contes du Whisky (publicada em 1925).

As lendas (algumas espalhadas pelo próprio autor) contam que, em 1924, terá ido para os EUA participar no contrabando de bebidas alcoólicas durante a lei seca.

Entre 1931 e 1938 publica as aventuras de Harry Dickson, o Sherlock Holmes americano, de que o Gato falará numa próxima publicação, pois merece. Os anos de 1936 e 1937 são os mais prolíficos, tendo publicado mais de 200 textos de ficção originais e cerca de 600 artigos.

Em 1943, surgem aquelas que serão, talvez, as suas principais e mais significativas obras: La Cité de l'Indicible Peur e Malpertuis, ambas adaptadas ao cinema, a primeira em 1964, por Jean-Pierre Mocky, com Bourvil e Francis Blanche, e a segunda em 1971 por Harry Kumel, com Orson Welles, Michel Bouquet e Sylvie Vartan. Nos anos 60, o cineasta Alan Resnais terá mostrado interesse em adaptar ao cinema as aventuras de Harry Dickson mas o projecto acaba por não vingar.

Jean Ray esteve activo até à sua morte, tendo publicado diversas outras obras, de onde se destacam Les Derniers contes de Canterbury (1944) e a antologia Les 25 Meilleures Histoires Noires et Fantastiques (1961).


Em Portugal, para além das aventuras de Harry Dickson, 30 volumes publicados pela Editorial Estampa entre 1976 e 1978, o Gato tem conhecimento da edição d'As 25 Melhores Histórias Negras e Fantásticas (Editora Arcádia, 1975), do Bestiário Fantástico (Moraes Editores, 1978) e de Os Últimos Contos de Cantuária (Vega, 1983).


 Fontes: Wikipedia, Jean Ray.

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